quinta-feira, 28 de abril de 2016

PARIS - ABRI

  GRANDE MENU DE PASSOS   
     -  mas Á MERCÊ do Gênio -                              EGG - on the road 



Este é o tipo de lugar que sem a tecnologia de hoje você nunca descobriria; a internet e o boca a boca fizeram que este pequeno restaurante, com menos de 20 lugares, perdido no 10º arrondissement, desleixado e com a cozinha no meio do salão de apenas 4 m² este cheio o tempo todo, e que para conseguir uma mesa, ela deva ser reservada minimo com um mês e meio de antecedência.
O restaurante parece um qualquer, visualmente até rejeitável, o atendimento é rustico, a carta de vinhos é cara, mas a comida compensa absolutamente todo.


Um chef japonês servindo cozinha ocidental pode gerar
certa desconfiança inicial, mas o cara mostra uma mestria sem igual no preparo e na execução dos pratos, principalmente dos peixes, que na nossa janta foram os grandes protagonistas.

Aqui a refeição tem um valor fixo, de 49 Euros (uns 190 reais) por pessoa, já com o serviço incluso mas sem bebidas e a janta é o que o chefe Katsuaki Okiyama escolhe, pois em cada mesa não se saboreiam os mesmos passos.




No primeiro passo, um peixe crudo com gengibre, hortelã, aspáragos e azeitonas pretas: saboroso, refrescante, um bom amouse bouche para abrir o apetite





O segundo passo gerou os primeiros gemidos na mesa: um St Jacques com emulsão de  aspáragos: um peixe comum levado ao ponto de grandiosidade: crocante, carnudo.
o saint jaques, não só desmanchava na boca, mas a textura conseguida no ponto de cozimento é de quem manja e muito de peixes.





O terceiro foi uma sopa, até para enxaugar a boca apos dois peixes e  dar uma quebrada...mas não era qualquer sopa não: uma abobora cremosa, doce quase aditiva, consistente e com uma textura sublime! A emulsão de maçã deu um efeito visual, mas não aportou grande coisa ao palato... não precisava.





4 passo (foto de capa): O grande segredo deste prato foi o ponto do peixe...inacreditável!
Peixe suculento, carnudo, cozido até o ponto certo a uma temperatura seguramente baixa com aspáragos e emulsão de coco.
Eu não era tão fá assim do peixe, mas só porque até hoje ninguém tinha atingido esse nível de perfeição nos pontos de cozimento, o verdadeiro segredo deste restaurante, ao nível de estrela Michelin pela comida.





Quinto e último passo antes da sobremesa veio o pato, que foi o que o chef escolheu pra nos, embora bem apresentado e bem acompanhado de batatas bem aromatizadas não sobressaiu.
Aqui não tem conversa, se você viu passar um prato que te alucinou, melhor esquece-lo porque pode não ser aquele escolhido para a tua mesa. 






Um caro Chateau Le Puy 2011 não acompanhou tão bem a janta, mas a carta é cara e tampouco existe por parte do pessoal, que fala um rudimentário francês e nada de inglês, sugestões na hora de harmonizar a comida com o vinho.O vinho é frutado, fresco, boa acidez mas com uma nariz austera e carece de profundidade, sem capas...plano do começo ao fim; Dum vinho deste valor espero outra coisa.








A sobremesa deixou um sabor agridoce, nada que cobrar da que foi servida, o millefeuille de maçã com um delicioso sorvete  de baunilha foi de excelente execução...a finura e o sabor da lamina de maçá regada em açúcar de confeiteiro ainda a deixou mais delicada e melhor apresentada , mas vimos passar para outra mesa uma de chocolate que tivéssemos gostado que chegasse na nossa.


A rigidez do sistema impede a escolha ou a troca, o que pode deixar, como em nosso caso, um certo aborrecimento; ao final das contas você paga pela refeição e fica á mercê do que o gênio japonês decide, ficando unicamente ao critério dele o que cada mesa deve comer.
Seria muito melhor que TODOS recebessem a mesma refeição, aquiloo que o cara escolheu para esse dia, ou, operativamente mais complicado claro, que a mesma mesa reciba pratos diferentes para apreciar todas as iguarias do restõ, mas ver passar pratos sublimes e não saber se você vai recebe-lo é um tanto cruel e déspota por parte do chef. 


A conta atingiu 134 Euros, mas 36 foram do vinho, e as opções menores a trinta são escassas.

Em definitiva, restaurante de passos sem meias tintas...um chef brilhante na execução dos pratos e iguarias digna de estrelas Michelin, por um valor bem menor que nesses restaurantes, mas um tanto gênio demais para decidir o que cada mesa deve comer.
Os 49 Euros da refeição estiveram muito bem pagos, mas não sei se voltaria.

ABRI,
92 Rue du Fabourg Poissonniere - Paris

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